Rótulos

quarta-feira, 4 de abril de 2012


Psicanalista Nahman Armony 
Muitas vezes, o borderline é rotulado de ‘egoísta’ ou ‘desequilibrado’ quando, na verdade, sofre de um transtorno de personalidade, reconhecido pelo padrão de instabilidade no afeto e no controle dos impulsos. O problema afeta de 1 a 2% da população geral. Esse total é composto por 10% de pacientes psiquiátricos e 20% dos internados em hospitais. A estatística ainda aponta que 70% são mulheres. A taxa de mortalidade devido ao suicídio é alta: atinge 10% dos pacientes.
Os especialistas gostam de dizer que o borderline é uma colcha de retalhos de sintomas de diversos transtornos. Os pacientes apresentam sensações, muitas vezes, conflitantes, como raiva, tristeza, vergonha, pânico, terror e sentimentos crônicos de vazio e solidão. Eles mudam com frequência de um estado a outro e apresentam alteração na cognição. O borderline tem experiências de despersonalização e perda da percepção da realidade. Podem existir sintomas psicóticos, com episódios transitórios de ilusões e alucinações.

Outro traço é a impulsividade. Há borderlines destrutivos que apresentam comportamento suicida e até mesmo automutilação. Outros abusam de drogas, tem desordens alimentares, participam de orgias, apresentam explosões verbais e direção imprudente. Esses pacientes se envolvem em relacionamentos intensos e instáveis. O problema mais comum é o grande medo de abandono, que tende a se manifestar em esforços desesperados para evitar ser deixado sozinho. O borderline ora idealiza, ora desvaloriza o outro. Sendo assim, não é de se estranhar que o relacionamento seja pontuado por brigas e rompimentos.
Várias causas podem explicar a origem do transtorno: além do fator genético, existem as experiências traumáticas na infância, como abuso sexual e negligência. O psiquiatra Larry Siever, diretor da Divisão de Ambulatório de Psiquiatria do Bronx e professor de Psiquiatria da Mount Sinai School of Medicine, defende que essa patologia tem bases biológicas. Ele associa o transtorno a baixos níveis de serotonina, o que explicaria alguns sintomas como impulsividade e instabilidade afetiva. Ele demonstra que, embora o transtorno não seja hereditário, familiares desses pacientes apresentam maior ocorrência desse tipo de sintoma do que o normal.
Exames de neuroimagem mostraram que o transtorno está associado a alterações no funcionamento de algumas regiões do cérebro. Em estudos de PET (Tomografia por Emissão de Pósitrons), o córtex cingulado anterior, região mediadora do controle afetivo e outras áreas do córtex pré-frontal, apresentaram um metabolismo alterado. Estudos estruturais mostraram redução no volume da amígdala e do hipocampo. A técnica de RMf (Ressonância Magnética funcional) registrou uma ativação aumentada da amígdala em resposta a expressões faciais e emoções negativas. O que não se sabe é se essas alterações são a causa ou a consequência do transtorno. 

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